terça-feira, 6 de setembro de 2011

O Reflexo Fatal

Nós os bons temos um problema.

Os espelhos.

Como narciso a olhar para o lago, os espelhos têm em nós (os bons) um mágico fascínio, uma tentação inconcebível que nos faz parar, seja onde for, para olhar. O bom pode estar a admirar a mais esbelta e singela fêmea, mas por detecção de um espelho distrai-se da sua presa para admirar, qual adónis, a sua figura e deleitar-se no seu ego. Esta prática não necessita do mais nítido ou claro reflexo… o vidro de um carro, um reflexo sujo numa poça imunda, tudo aquilo que reflicta os traços do bom se torna numa atracção fatal.

Por isso andamos de queixo erguido. Não pela presunção do que somos (da qual não precisamos pela franca compreensão da nossa condição), nem por uma questão de postura corporal, mas sim para evitar o contacto visual com um qualquer reflexo da nossa magnificência.

Os espelhos são então como uma praga que nos aflige, uma armadilha constante do nosso quotidiano, porque o amor pela miragem daquelas que amamos todos os dias - no singular, plural ou assim assim - nunca pode ser mais importante que a avaliação da nossa figura. E bolas, como somos bons!

O olhar, o jeito no cabelo, a miragem do perfil. Por esta ordem.

Porque ser bom é ser super-homem. E também para nós há uma Kryptonite.
 

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